sábado, 25 de maio de 2013

Impressões sobre os três primeiros livros da obra “Confissões” de Santo Agostinho.


Esse exercício foi feito na disciplina de Filosofia Medieval que, se não me engano, foi ministrada no 3º semestre do curso de Filosofia. Nessa disciplina, tive a oportunidade de conhecer um pouco sobre Santo Agostinho e, através de sua obra, compreender minimamente a transição da filosofia antiga para a filosofia medieval, em outras palavras, a transição de um momento onde o homem era a medida de todas as coisas para um momento onde Deus passa ser a medida de todas as coisas. Como se trata de uma atividade não muito recente, eu a revisei e a reescrevi de maneira a misturar minhas impressões sobre a obra de Santo Agostinho com um testemunho do a minha própria experiência conforme ia me aprofundando nos estudos e tentando me aproximar de Deus.

Por essa razão, recomendo que o texto seja lido com atenção dobrada para que possam perceber com clareza os momentos em que me refiro à obra de Santo Agostinho e os momentos que faço referência à minha própria experiência de vida.



Impressões do Livro I – A infância

Santo Agostinho, considerado o primeiro grande teólogo cristão no século V d.C., descreve em seu primeiro livro das “Confissões” as dúvidas que tinha em relação ao Deus que estava começando a conhecer enquanto era criança e o apelo pelo perdão dos pecados que cometera quando ainda não possuía total compreensão dos desígnios do Criador. 

Nesta época, conforme se formava a teologia cristã, uma das grandes questões que suscitava era “Devemos primeiro conhecer a Deus para só então invoca-lo e louvá-lo ou devemos primeiro invocá-lo e louvá-lo a fim de conhecê-lo?” – Agostinho levanta esse questionamento no seu livro e começa a se recordar da sua infância, questionando comportamentos que muitas vezes demonstrava por ignorância. O teólogo, também começa entender minimamente quais eram os desígnios de Deus e Seu papel durante seu período de infância. 

Ao ler o primeiro livro das “Confissões” de Santo Agostinho, me identifiquei com muito do que está escrito. Enquanto crianças, copiávamos umas às outras e àqueles que nos rodeavam e nos impunham crenças e valores. Todo o nosso comportamento inicial, embora capacitado por Deus, se dava com base nos ensinamentos dos homens do mundo material e não com base na graça do Senhor. 

Quando Santo Agostinho narra que ao ser batizado e iniciado na prática cristã, começa a se dar conta daquilo que agrada e desagrada a Deus e passa a observar melhor as punições que lhe caiam sobre quando não fazia a vontade dos homens. Entende que a mesma era um mal necessário que retornaria em forma de bem. 

Exatamente assim me senti ao iniciar o curso de filosofia. Era grande o interesse em absorver o pensamento dos grandes pensadores antigos, ou seja, as ideias que formularam todo o pensamento ocidental, porém, sempre vinha acompanhado da sensação de desapego sobre qualquer filosofia. Ao mesmo tempo sentia minha fé em Deus, Criador e Ordenador do universo se fortalecer a cada dia.

Comecei então, estudar a palavra de Deus diariamente e a refletir sobre a mesma, foi quando me dei conta de que muitas coisas que eu fazia, ainda que sem intenção, não agradavam a Deus. Nessas horas o remorso me consumia e a vergonha também. Isto me levava a pensar o quanto importante é ter conhecimento do bem, pois a ignorância do mesmo nos conduz ao pecado. Mas, então me lembrava da misericórdia divina e orava a fim de que Deus me perdoasse e renovasse meu espírito para que continuasse firme em seu caminho para cumprir Suas obras e glorifica-lo. 

Muitas das dúvidas que Santo Agostinho tinha em relação ao que viveu enquanto era criança, também passei a questionar, e, dou graças a Deus por ter implantado em mim o desejo de buscá-lo e conhecê-lo em tempo para que eu pudesse me corrigir e seguir adiante.

Impressões do Livro II – Os pecados da adolescência

Nesse livro, Santo Agostinho narra a respeito dos pecados cometidos durante sua adolescência. A maneira como descreve seus pecados e experiências demonstra o quanto as coisas da terra, que embora criadas por Deus, são atraentes aos nossos sentidos, mas mesquinhas se comparadas às coisas celestiais. Mas o que seriam suas confissões senão uma maneira de motivar nossas próprias confissões? 

Suas confissões me fez refletir a respeito sobre o que nos atrai ao pecado, senão o fato de que muitas coisas nos são proibidas pelos desígnios divinos e o próprio ato. Por muitas vezes agimos no impulso de sanar os desejos de nosso corpo e, por isso, nos afastamos de Deus. Quando nos afastamos de Deus, que é bom e justo, tendemos a fazer coisas que O desagradam. Sendo que, nosso dever seria honrá-lo e viver de acordo com sua imagem e semelhança, espiritualmente falando. 

Entretanto, a impressão que tenho é que, Santo Agostinho reflete muito sobre sua adolescência e, somente com esse exercício de reflexão, já adulto imagino, compreende que muitos dos desagrados cometidos enquanto adolescente, não possuíam atrativos nenhum. 

Considero altamente recomendado refletir sobre essas questões, pois do contrário não teríamos consciência dos erros que cometemos e, consequentemente não nos arrependeríamos dos mesmos e, obviamente, não nos confessaríamos. Mantendo assim, o pecado conosco. 

O exercício de reflexão me fez lembrar experiências passadas das quais não me alegro atualmente por ter consciência de que, o que fiz no passado era apenas para alimentar uma falsa sensação de poder e realização, mas que na verdade não possuía glória alguma.  Com o conhecimento adquirido nesse exercício, me arrependo de muitas coisas e as confesso para que Deus, com toda Sua misericórdia, possa me perdoar.

Impressões do Livro III – Os estudos

A impressão que tive ao ler esse livro é que, por um período de tempo, Santo Agostinho não tinha certeza a respeito de sua fome por conhecimento referente a Deus. As filosofias que aprendia ao longo de seus estudos lhe prendia a atenção, porém, não satisfazia todas as suas dúvidas, mas deixavam novas questões no ar.

O livro de Cícero que Santo Agostinho leu, refutou muitos filósofos da época e isso acabou de certa maneira despertando sua atenção, levando-o a estudar filosofia mais a fundo. Entretanto, dedicou-se ao estudo da Bíblia tendo consciência mais tarde de que a mesma era Deus por escrito. 

Identifiquei-me com essa leitura de Santo Agostinho, pois me sinto um pouco deslocado na faculdade em relação ao pensamento dos antigos filósofos que aprendemos de maneira geral ao longo dos semestres. Todos os pensamentos parecem fazer sentido a princípio, porém, ao passo que vejo muitos deixando a fé em Deus de lado, a minha se torna cada vez mais forte, pois todos os pensamentos até então parecem incompletos. 

Ler Santo Agostinho me levou numa viagem por volta de 1500 anos atrás. Nessa viagem pude perceber que muitas das questões levantadas por Santo Agostinho até hoje são atuais e temas de pesquisas.

Considerando que, antigamente o homem estava no centro do conhecimento, caminhando por si só e entregando-se às paixões do mundo, chego a concluir que, essa leitura se torna imprescindível para entendermos um pouco da transição da filosofia antiga para a filosofia medieval, onde Deus passa a ser o centro de todas as coisas. Nunca terei a certeza de onde chegarei em minha busca por Deus e por conhecimento, porém, agora eu posso afirmar que eu tenho um ponto de partida.




Fonte da imagem:

http://www.liberdadefmpocoes.com.br/wp-content/uploads/2013/03/07-confissao.jpg, acessado em: 25/05/2013

Bibliografia

AGOSTINHO, Santo. Confissões, 1. Ed. – São Paulo : Folha de S. Paulo, 2010 (Coleção Folha: livros que mudaram o mundo; v. 12)
 

Impressões sobre o texto “Conferências e Escritos Filosóficos: a preleção”, de Heidegger (1929)

Seguem breves impressões sobre o texto “Conferências e Escritos Filosóficos: a preleção”, de Heidegger (1929). Essas impressões foram feitas no segundo semestre do curso de Filosofia, disciplina de Metafísica. Tirei elas do baú.






O texto “A Preleção” de Heidegger, descreve um estudo metafísico em relação à questão do “nada” – questão totalmente metafísica. 

No texto podemos observar que o “nada” de Heidegger tem um significado diferente do “nada” tratado na ontologia clássica e do “nada” da tradição cristã. Na ontologia clássica, é atribuído ao conceito de “nada” o sentido de “não-ente”, ou seja, matéria informe que não pode dar forma a um ente com caráter de figura. Na tradição cristã, o “nada” tem o sentido de ausência total de ente fora de Deus e compreendido como o oposto do mesmo. Consequentemente, a “matéria prima” para que Deus crie todas as coisas. 

Partindo de uma analítica científica, Heidegger se depara com a questão do “nada” que é totalmente rejeitado pela ciência como simplesmente não sendo coisa alguma ou simplesmente pelo fato de não se importarem com o que o “nada” possa significar. 

Com indagações cautelosamente pensadas, Heidegger descreve o nada como uma experiência que é manifestada por meio da angústia – sentimento causado quando nosso estado de humor nos diz que estamos incomodados em relação a algo do qual não podemos definir. A manifestação do nada consiste na ausência da totalidade do ente, no entanto, é o que nos permite acessar o ente em sua plena essência. 

Heidegger demonstra em sua investigação que a única maneira de termos uma relação entre “ser-aí” e ente é estando suspensos no nada. Este sendo manifestado através do sentimento de angústia que, por conseguinte, é necessário e caracteriza o homem. A angústia é o que move o homem na busca pelo sentido de sua própria existência e compreensão de sua relação com o mundo.


Referência bibliográfica

HEIDEGGER, Martin. – A Preleção in: Conferências e escritos filosóficos; tradução e notas Ernildo Stein, 4ª ed. – São Paulo : Nova Cultura, 1991
 

A luta de classes no texto “O 18 de Brumário de Luís Bonaparte”

Seguem breves anotações sobre o conceito de luta classes na obra "O 18 Brumário de Luís Bonaparte", de Karl Marx.

Este resumo foi feito em parceria com o querido amigo Otacílio Junior (http://doconflito.blogspot.com.br/), do curso de História, como relatório de leitura da disciplina de História da Filosofia Contemporânea I. Para tal, foi utilizado como base apenas os prefácios  e os capítulos I (pág. 7 - 14) e VII (pág. 71 - 82) do livro "O 18 Brumário de Luís Bonaparte".


Luta de Classes de Marx



A "luta de classes" é um conceito usado no trabalho do filósofo, economista, sociólogo e historiador alemão Karl Marx intimamente relacionado ao seu materialismo histórico.

Para entender a luta de classes e seu uso na obra “O 18 Brumário de Luís Bonaparte” voltemos à maneira como Marx descreve o surgimento de diferentes classes sociais no materialismo histórico. Trata-se de uma abordagem da História criada ao contrapor e enriquecer a dialética hegeliana e o materialismo, segundo Feuerbach. Marx mostra com sua filosofia que a História é feita pela atividade do homem e é socialmente determinada pelo seu modo de produção.

O modo de produção de uma sociedade é o conjunto das forças produtivas e das relações de produção entre si. O surgimento das classes sociais se deu no momento em que os detentores das forças produtivas uniram-se àqueles que não a possuíram estabelecendo assim, uma relação de produção (querendo ou não): de um lado explorador, de outro explorado [RIUS, 1981].

Estando em diferentes posições sociais decorrentes das relações de produção as classes desenvolvem interesses particulares e antagônicos e lutam por esses interesses de várias formas, mas principalmente na forma política, constituindo assim a evolução da história humana.

Luta de Classes na obra "O 18 Brumário de Luís Bonaparte"



Marx, através da dialética do materialismo histórico, demonstra a aplicabilidade do conceito de luta de classes no livro "O 18 Brumário de Luís Bonaparte". Este livro nos permite uma visão considerável de toda a estrutura social, política e econômica da França no período de 1848 até 1851 quando ocorre o grande golpe de estado de Luís Bonaparte.

Diferentemente de outros autores que trataram do mesmo assunto neste período, mas que se limitaram apenas em engrandecer o responsável pelo golpe de estado, Marx demonstra como a luta de classes possibilitou que um personagem medíocre se passasse por herói.

Para tal, Marx contempla o passado histórico da França e compreende que, a classe burguesa se tornava cada vez mais conservadora, pois já não possuía mais o espírito revolucionário introduzido por Napoleão Bonaparte, preocupando-se apenas com a garantia do poder vigente. Ao passo que, devido à opressão da burguesia, a classe proletária se tornava potencialmente revolucionária [CARLOS, 2006].

Boa parte da massa proletária era composta de camponeses conservadores que não possuíam a visão de classe e eram visivelmente desorganizados. Eis que então surge a oportunidade ideal para o sobrinho de Napoleão, Luís Bonaparte representá-los politicamente para reivindicar a república social e assumir a frente do Estado [NUNES, 2008, p. 06].

Para realizar seu golpe de estado, Bonaparte determina temporariamente o fim do voto secreto de maneira a enganar a classe burguesa que não comparece para votação. Desta forma é eleito pela massa a representar o estado. Passa então, a se auto intitular como Napoleão III.

Uma vez no poder, começa a prejudicar os camponeses dividindo suas terras e cobrando impostos de maneira a estimular o capitalismo e o comércio. Aqueles que se recusavam a pagar os impostos sofriam grandes represálias e eram ameaçados de perder suas posses.

Visto que Napoleão III estava beneficiando o capitalismo e o comércio, a classe burguesa passa a apoiá-lo em sua gestão.
Toda essa estratégia e um novo Napoleão no poder, visto que o primeiro Napoleão também havia dado um golpe de estado, fundamenta a frase com que Marx inicia seu texto: “Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”.

Conclui então que, os homens fazem sua própria história, porém, não da maneira como querem, mas sim por circunstâncias que são transmitidas pelo passado e dentro dos limites que a realidade em que vivem os impõe [CARLOS, 2006].


Fonte da Imagem: 

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQA0IQrW3jsoHleB63v5aJsdX2XA2EEf20XtZ7zBXECy5mTqnttDlJ-tgBz7CuWO0enB27nOZ-bR0XjwpHT38neh9CSLKU_IVXIlUL_0RmGq1RfwXH0KX5mvcYqiFbSHjtJeiaGSnjMmbS/s1600/karl-marx.jpg, acessado em: 25/05/2013




Referências bibliográficas:


RIUS. - Conheça Marx: Teoria e Política em Quadrinhos. São Paulo: Proposta Editorial, 1981. (Coleção Espaço)

MARX, Karl. - O 18 Brumário de Luis Bonaparte. São Paulo: Nova Cultural, 1988.
(Coleção Os Pensadores)

SANTIAGO, Emerson. - Luta de Classes, disponível em:
http://www.infoescola.com/sociologia/luta-de-classes/, acessado em: 24/05/2013

CARLOS, Cássio. - O 18 Brumário de Luís Bonaparte : A discreta farsa da burguesia, disponível em: http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/18-brumario-luis-bonaparte-discreta-farsa-burguesia-434656.shtml, acessado em: 24/05/2013

NUNES, Gilerlândia. - Notações preliminares sobre "O 18 Brumário de Luís Bonaparte", de Karl Marx, disponível em:
http://www.cchla.ufrn.br/interlegere/revista/pdf/4/le03.pdf, acessado em: 24/05/2013