Esse exercício foi feito na disciplina de Filosofia Medieval que, se não me engano, foi ministrada no 3º semestre do curso de Filosofia. Nessa disciplina, tive a oportunidade de conhecer um pouco sobre Santo Agostinho e, através de sua obra, compreender minimamente a transição da filosofia antiga para a filosofia medieval, em outras palavras, a transição de um momento onde o homem era a medida de todas as coisas para um momento onde Deus passa ser a medida de todas as coisas. Como se trata de uma atividade não muito recente, eu a revisei e a reescrevi de maneira a misturar minhas impressões sobre a obra de Santo Agostinho com um testemunho do a minha própria experiência conforme ia me aprofundando nos estudos e tentando me aproximar de Deus.
Por essa razão, recomendo que o texto seja lido com atenção dobrada para que possam perceber com clareza os momentos em que me refiro à obra de Santo Agostinho e os momentos que faço referência à minha própria experiência de vida.
Impressões
do Livro I – A infância
Nesta
época, conforme se formava a teologia cristã, uma das grandes questões que
suscitava era “Devemos primeiro conhecer a Deus para só então invoca-lo e
louvá-lo ou devemos primeiro invocá-lo e louvá-lo a fim de conhecê-lo?” –
Agostinho levanta esse questionamento no seu livro e começa a se recordar da
sua infância, questionando comportamentos que muitas vezes demonstrava por
ignorância. O teólogo, também começa entender minimamente quais eram os
desígnios de Deus e Seu papel durante seu período de infância.
Ao
ler o primeiro livro das “Confissões” de Santo Agostinho, me identifiquei com
muito do que está escrito. Enquanto crianças, copiávamos umas às outras e àqueles
que nos rodeavam e nos impunham crenças e valores. Todo o nosso comportamento
inicial, embora capacitado por Deus, se dava com base nos ensinamentos dos
homens do mundo material e não com base na graça do Senhor.
Quando
Santo Agostinho narra que ao ser batizado e iniciado na prática cristã, começa
a se dar conta daquilo que agrada e desagrada a Deus e passa a observar melhor as
punições que lhe caiam sobre quando não fazia a vontade dos homens. Entende que
a mesma era um mal necessário que retornaria em forma de bem.
Exatamente
assim me senti ao iniciar o curso de filosofia. Era grande o interesse em
absorver o pensamento dos grandes pensadores antigos, ou seja, as ideias que
formularam todo o pensamento ocidental, porém, sempre vinha acompanhado da
sensação de desapego sobre qualquer filosofia. Ao mesmo tempo sentia minha fé em
Deus, Criador e Ordenador do universo se fortalecer a cada dia.
Comecei então, estudar a palavra de Deus
diariamente e a refletir sobre a mesma, foi quando me dei conta de que muitas
coisas que eu fazia, ainda que sem intenção, não agradavam a Deus. Nessas horas
o remorso me consumia e a vergonha também. Isto me levava a pensar o quanto
importante é ter conhecimento do bem, pois a ignorância do mesmo nos conduz ao
pecado. Mas, então me lembrava da misericórdia divina e orava a fim de que Deus
me perdoasse e renovasse meu espírito para que continuasse firme em seu caminho
para cumprir Suas obras e glorifica-lo.
Muitas
das dúvidas que Santo Agostinho tinha em relação ao que viveu enquanto era
criança, também passei a questionar, e, dou graças a Deus por ter implantado em
mim o desejo de buscá-lo e conhecê-lo em tempo para que eu pudesse me corrigir
e seguir adiante.
Impressões do Livro II – Os pecados
da adolescência
Suas
confissões me fez refletir a respeito sobre o que nos atrai ao pecado, senão o
fato de que muitas coisas nos são proibidas pelos desígnios divinos e o próprio
ato. Por muitas vezes agimos no impulso de sanar os desejos de nosso corpo e,
por isso, nos afastamos de Deus. Quando nos afastamos de Deus, que é bom e
justo, tendemos a fazer coisas que O desagradam. Sendo que, nosso dever seria
honrá-lo e viver de acordo com sua imagem e semelhança, espiritualmente
falando.
Entretanto,
a impressão que tenho é que, Santo Agostinho reflete muito sobre sua
adolescência e, somente com esse exercício de reflexão, já adulto imagino, compreende
que muitos dos desagrados cometidos enquanto adolescente, não possuíam atrativos
nenhum.
Considero
altamente recomendado refletir sobre essas questões, pois do contrário não teríamos
consciência dos erros que cometemos e, consequentemente não nos arrependeríamos
dos mesmos e, obviamente, não nos confessaríamos. Mantendo assim, o pecado
conosco.
O
exercício de reflexão me fez lembrar experiências passadas das quais não me
alegro atualmente por ter consciência de que, o que fiz no passado era apenas
para alimentar uma falsa sensação de poder e realização, mas que na verdade não
possuía glória alguma. Com o
conhecimento adquirido nesse exercício, me arrependo de muitas coisas e as
confesso para que Deus, com toda Sua misericórdia, possa me perdoar.
Impressões do Livro III – Os
estudos
O
livro de Cícero que Santo Agostinho leu, refutou muitos filósofos da época e
isso acabou de certa maneira despertando sua atenção, levando-o a estudar
filosofia mais a fundo. Entretanto, dedicou-se ao estudo da Bíblia tendo
consciência mais tarde de que a mesma era Deus por escrito.
Identifiquei-me
com essa leitura de Santo Agostinho, pois me sinto um pouco deslocado na
faculdade em relação ao pensamento dos antigos filósofos que aprendemos de
maneira geral ao longo dos semestres. Todos os pensamentos parecem fazer
sentido a princípio, porém, ao passo que vejo muitos deixando a fé em Deus de
lado, a minha se torna cada vez mais forte, pois todos os pensamentos até então
parecem incompletos.
Ler
Santo Agostinho me levou numa viagem por volta de 1500 anos atrás. Nessa viagem
pude perceber que muitas das questões levantadas por Santo Agostinho até hoje
são atuais e temas de pesquisas.
Considerando que, antigamente o homem estava no
centro do conhecimento, caminhando por si só e entregando-se às paixões do
mundo, chego a concluir que, essa leitura se torna imprescindível para
entendermos um pouco da transição da filosofia antiga para a filosofia medieval,
onde Deus passa a ser o centro de todas as coisas. Nunca terei a certeza de onde
chegarei em minha busca por Deus e por conhecimento, porém, agora eu posso
afirmar que eu tenho um ponto de partida.
Fonte da imagem:
http://www.liberdadefmpocoes.com.br/wp-content/uploads/2013/03/07-confissao.jpg, acessado em: 25/05/2013
Bibliografia
AGOSTINHO,
Santo. Confissões, 1. Ed. – São Paulo
: Folha de S. Paulo, 2010 (Coleção Folha: livros que mudaram o mundo; v. 12)