Utilizamos o filme The Philosophers, do diretor John Huddles, para auxiliar o debate, uma vez que o filme possui aspectos que podem ser correlacionados com conceitos dos autores citados no livro Introdução à Filosofia Política, de Jonathan Wolff, acerca do estado de natureza.
Sobre
o filme:
Título original: The Philosophers
Título nos EUA: After the dark
Nacionalidade: EUA, Indonésia
Ano de lançamento: 2013
Direção: John Huddles
Título nos EUA: After the dark
Nacionalidade: EUA, Indonésia
Ano de lançamento: 2013
Direção: John Huddles
Por que escolhemos o filme “The Philosophers”?
São quatro as razões principais pelas quais escolhemos
o filme “The Philosophers”: 1-) O filme é atual. 2-) Trata-se de um exercício
filosófico em relação à uma hipótese, assim como as hipóteses de estado de
natureza em Hobbes, Locke, Rousseau e entre os Anarquistas. 3-) Refere-se a uma
situação catastrófica onde as pessoas precisam usar da razão para se auto
preservar. Por fim, quarta razão: o filme possui aspectos que podem ser
associados às concepções de estado de natureza dos autores citados e que nos
permitirá uma reflexão sobre se alguma vez já existiu um estado de natureza ou,
se sim, se o mesmo se assemelha com as o estado de natureza dos autores.
Prelúdio
A aula de filosofia acontece em um colégio
internacional em Jakarta, capital da Indonésia.
Antes de o professor Zimit propor o exercício do
apocalipse para os alunos, os alunos citam algumas das teorias estudadas em
classe. Uma das teorias é o paradoxo da ignorância onde é demonstrado que o
instinto de autopreservação está acima da amizade e da cooperação, assim como
no estado de natureza de Hobbes, onde o objetivo principal é a autopreservação
independente dos meios.
Zimit então propõe aos alunos um último exercício: um
apocalipse nuclear onde o ele e o grupo de 20 alunos são os únicos
sobreviventes, mas apenas 10 deles deverão ocupar um refúgio por um período de
1 ano e serão responsáveis por garantir a sobrevivência da raça humana.
Lógica é a única ferramenta de que os alunos dispõem
para selecionarem as pessoas adequadas para ficar no refúgio.
Primeiro
Experimento
O primeiro experimento se passa num conjunto de
templos Hindu em Prambanan.
O refúgio possui comida e oxigênio suficientes para 10
pessoas durante o período de 1 ano.
O principal critério de seleção das pessoas que
ocuparão o refúgio é a profissão de cada um.
Com o mundo prestes a acabar e com recursos escassos,
as pessoas manteriam a razão ou a abandonaria, reduzindo-se assim a um suposto
estado de natureza? O que vocês acham que uma pessoa faria ao estar próximo do
fim? Esperar ou fazer tudo aquilo de que têm vontade?
Logo que o professor propõe o exercício, a garota
ruiva diz que não quer participar, pois acha o exercício ridículo e inadequado.
O professor a convence a participar utilizando do medo, pois o refúgio seria a
única esperança para que não fosse queimada viva e lentamente pela fumaça
tóxica dos ataques nucleares. Hobbes cita algo parecido em seu suposto estado
de natureza. O pensador diz que num grupo onde todos ou a maioria age de uma
determinada maneira, seja boa ou ruim, a pessoa que decide por agir contra tem
maiores chances de ser destruída pelo grupo. Em outras palavras, a pessoa
precisa agir de maneira semelhante para se auto preservar (WOLFF, 2011, p. 31).
Locke nos diz que, as pessoas estão na terra para
servir a Deus, portanto, cooperam entre si, uma vez que não precisam fazer
perdurar os desejos uns dos outros (WOLFF, 2011, p. 34). No filme, Zimit,
manipula a atribuição de papéis para o experimento como se fosse um deus, de
maneira que alguns alunos desempenhem os papéis que ele desejara.
Qual seria a relação entre o que Locke disse com a
perspectiva capitalista num mercado de trabalho competitivo como o atual? – Ora, algumas pessoas, por vezes, são obrigadas a
desempenharem funções impostas por outra pessoa que está acima. Locke
diz que não há superiores na terra, mas alguns superiores não brincam de deus?
Ainda na questão dos papéis, alguns pensadores
anarquistas, defendem a importância das especialidades num estado de natureza (WOLFF,
2011, p. 52) que, para eles, estaria além da sociedade civil.
Com base nessa afirmação e considerando que o contexto
de mercado atual da sociedade civil contribui para a formação de especialistas,
estaríamos próximo do estado de natureza proposto pelos anarquistas?
Quando o poeta se manifesta, Zimit rapidamente lhe dá
um tiro na cabeça com a justificativa de que não teria utilidade nenhuma no
grupo. Na perspectiva de Hobbes, o professor estaria apenas garantindo a
preservação do grupo e, consequentemente, a preservação da própria vida. Os
demais alunos ficam desconfiados e decidem por excluir o professor do refúgio.
O medo faz com que entrem em estado de alerta ou, na pior das hipóteses, guerra
(WOLFF, 2011, p. 25). No entanto, se num estado de natureza o
objetivo maior é a autopreservação, as pessoas não poderiam optar por se
sujeitarem a fim de preservar suas vidas?
Petra todas as noites observava o professor definhar
do lado de fora do refúgio, pois sentia compaixão e aversão pelo sofrimento de
Zimit. Compaixão e aversão ao sofrimento alheio são duas características que as
pessoas no estado de natureza de Rousseau possuem (WOLFF, 2011, p. 42-43).
De acordo com Rousseau, o ser humano é bom por
natureza, mas a sociedade o corrompe.
Com base nisso, seria correto afirmar que
Petra vivia um estado de natureza, ao passo que todos os demais estariam
corrompidos? Se há pessoas corrompidas e pessoas boas convivendo, seria correto
afirmar que a sociedade civil e o estado de natureza são como uma única coisa?
A escassez de bens e o instinto de autopreservação conduzem à guerra?
De acordo com Hobbes e Locke, a escassez de recursos é
um dos maiores motivos de disputa entre as pessoas (WOLFF, 2011, p. 23; p. 41),
porém, o filme nos mostra o contrário, o professor matou muitas pessoas quando
ainda havia comida e oxigênio o bastante, mas os que ficaram no refúgio
compartilharam o último recipiente de comida sem que houvesse disputa entre
eles. Nesse ponto, a escassez dos recursos e o instinto de autopreservação já
não seriam certos de que levariam à guerra. O filme ainda nos mostra a
possibilidade do suicídio coletivo que é desconsiderado no livro do WOLFF por
todos os autores.
Segundo
Experimento
O segundo experimento se passa no Monte Bromo.
Há alguns critérios adicionais para seleção como
homossexualidade, esterilidade e doenças.
Dentre os novos critérios de seleção, o pior é doença,
pois se contagiosa poderia infectar outros e como estariam presos todos juntos,
morreriam prematuramente. Diante disto, a atitude mais lógica seria excluir o
doente, assim como é feito na sociedade atual. Em relação à homossexualidade,
esta não seria descartável contanto que a pessoa fosse fértil e capaz de
reproduzir. No entanto, seria sensato reproduzir num ambiente de escassez de bens?
Essa lógica se aplica a um estado de natureza onde não há moralidade? O fato de
não ter moralidade implica em não ter razão? – Se num estado de
natureza há escassez de bens e, por conclusões da razão, não há reprodução, as
pessoas não têm muitas opções senão a extinção da raça humana, a menos que por
sorte se reduzam até um novo Adão e Eva.
Na segunda experiência há também uma divisão de grupos
por interesses em comum. Essa divisão pode existir tanto na sociedade civil
quanto num suposto estado de natureza. Se considerarmos o que Hobbes diz sobre
respeitar as leis da natureza somente com a certeza de que todos estão
respeitando (WOLFF, 2011, p.31), seria duas vezes mais difícil manter a paz
entre grupos distintos.
Rousseau contrapõe Hobbes ao dizer que as sociedades
surgem conforme o ser humano se aperfeiçoa até o ponto em que os corrompe (WOLFF,
2011, p. 47-50). Hobbes, todavia, diz que, as pessoas corrompidas poderiam
entrar em guerra por desejarem a mesma coisa até se reduzirem a um estado de
natureza (WOLFF, 2011, p. 23-24). Além disto, Rousseau diz que Hobbes ignora a
compaixão natural do ser humano (WOLFEE, 2011, p. 42-43), no entanto, Rousseau
ignora o egoísmo que em Hobbes também é natural (WOLFF, 2011, p. 25). Diante
disto, é o estado de natureza que leva à civilização ou o mesmo nasce da
civilização?
Há uma briga interna pelo poder de decisão quanto à
questão de reprodução. O professor fica gravemente ferido e, por isso, resolve
abrir o refúgio e deixar que todos sejam consumidos pelas chamas do apocalipse.
Essa passagem faz referência ao direito de punição em Locke (WOLFF, 2011, p.
37) e a contraposição de Hobbes de que o transgressor poderia se vingar (WOLFF,
2011, p. 39).
Terceira
rodada
Na terceira rodada é a Petra quem conduz o jogo. Ela
sugere ao grupo lidera-los e o grupo aceita a sugestão. Petra toma as decisões
de quem deveria ocupar o refúgio com base na emoção e todas as habilidades
descartadas na primeira rodada são consideradas ideais para ela.
O garoto ruivo e estéril decide por partir para outra
ilha deserta com várias mulheres para poder satisfazer o desejo sexual.
Petra e o grupo decidem por aceitar a morte quando a
mesma é eminente.
Nessa rodada, há um aspecto que faz referência ao
contratualismo de Hobbes, na definição de uma pessoa soberana, assim como
aspectos que fazem referência à boa natureza de Rousseau.
Referência
bibliográfica
Imagem disponível em: http://movit.net/wp-content/uploads/2013/05/Bonnie-Wright-James-DArcy-and-Daryl-Sabara-in-The-Philosophers-Movit.net_.jpg, acessado em: 26/04/2014