sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Teatro para juventude II

Olá, amigos!

Aproveitando a temporada de teatros juvenis, também resolvi escrever uma esquete que retrata o bem e o mal que reside em nós.

Nesta esquete há apenas três personagens que são interpretados pela mesma pessoa ao mesmo tempo.

O pessoa encontra-se diante de um espelho conversando com seu anjo e seu demônio interior. Nesta conversa são levantadas questões sobre a essência do ser humano e a sensação de não se adaptar a realidade como sendo um limite de aceitação as diferenças dentro de nós mesmos.

Espero que gostem. Até a próxima.


O bem e o mal que reside em nós


Eu para anjo: - Você não devia ficar me olhando deste jeito, como se eu estivesse errado.

Anjo: - Eu não sei quem está certo ou errado, mas você devia tentar ser mais sociável.

Eu: - É, às vezes sinto falta disto, porém, fico incomodado com a realidade. Sabe, às vezes tenho a impressão de que não há mais lugar para mim na sociedade.

Demônio para eu: - Verdade, acho que você deveria tomar um copo de veneno!

Anjo para demônio: - Hahaha, para com isto! Ele é gente boa, você que não o compreende.

Eu para ambos: - Vocês ficam rindo, mas eu já pensei nisto, sabiam?

Anjo para eu: - Realmente você tem demonstrado certas atitudes que me deixam triste.

Eu: - Desculpe, não é por mal. Só acho que meus valores são muito diferentes dos da sociedade.
- Eu fico me perguntando por que as pessoas mentem, têm inveja, são egoístas, traidoras, afinal, porque fazem essas coisas?

Demônio para eu: - As pessoas estão sendo elas mesmas, você também deveria ser assim. Tenho certeza de que elas iriam gostar muito mais de você.

Anjo para eu: - Você não precisa ser igual, afinal, você não é assim. Você pode até fazer as mesmas coisas, mas no final seus princípios sempre serão os mesmos. Neste caso você seria um hipócrita.

Demônio para eu: - Do jeito que as coisas andam, está compensando fazer o mal. De repente você gosta e acostuma, hehe.
- Já sei, compre uma arma. Assim quando alguém reclamar do que você estiver fazendo, você coloca a pessoa pra dançar.

Anjo para demônio: - Cada idéia que você tem, hein? De onde vem tanta besteira?

Demônio para ambos: - Ah! Já fui bonzinho demais e nunca ninguém me valorizou. Como conseqüência disto, acabei por conhecer novas perspectivas de vida.
- Hoje penso que, estava encenando uma peça negando minha própria natureza.

Anjo para demônio: - Hehehe, você desistiu muito fácil, qualquer coisinha ruim que acontecia você já queria punir e vingar-se, estragar a vida de alguém. Aliás, estragar sua própria vida.

Demônio: - Lá vêm você. Nem sabe ao certo o que aconteceu.

Anjo para eu: - Voltando ao assunto, de fato as pessoas têm perdido alguns valores ao longo do caminho por conta de conselhos como esses que ele está te dando.

Eu: - Devo confessar que as idéias até que são interessantes, mas ainda não cheguei a uma conclusão.
- Eu só queria que fosse mais fácil confiar nas pessoas, viver em harmonia.

Anjo: - As pessoas vivem em conseqüências das escolhas que elas mesmas fazem.
- Eu acho que você deveria desenvolver mais a sua habilidade de aceitação, pois isto é um limite, sabia?

Eu: - Desenvolver mais ainda?
- Eu aceito até demais, por isto, ainda não desisti.

Demônio para eu: - Eu ainda acho que você não tem jeito.
- Deveria tomar um copo de veneno ou então, comprar a arma como já te falei, assim as pessoas respeitariam você.

Anjo para demônio: - Quer parar de falar bobagens?
- Esses são os piores conselhos que alguém já deu na vida.

Demônio - E você acha que os seus são bons? – Parece até que quer que ele continue sofrendo.

Anjo: - Não quero que ele sofra. Quero ajudá-lo.

Demônio: - Sei. Se quisesse mesmo ajuda-lo, concordaria comigo.

Anjo: - Não tem cabimento concordar contigo, você também precisa de ajuda.

Eu para ambos: - Hey, pessoal!
- Chamei vocês para me ouvirem e não para discutirem entre vocês. Pelo amor, estou cansado de assistir sempre a mesma coisa.
- Quer saber, já escovei meus dentes, vou embora. Tchau!

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Teatro para juventude

Olá, amigos!

Hoje estarei postando uma esquete feita por uma pessoa que admiro muito, Maurício Pinheiro. Trata-se de uma pequena peça para reflexão sobre como achamos ser livres quando na verdade estamos presos na sociedade de uma maneira geral.

Escola Suicida

Decidi escrever um simples esquete, visando auxiliar uma jovem amiga, esperando que ela não seja expulsa da escola por encená-la.
Os reacionários venceram, simplesmente por que são a maioria.
O esquete chama-se “Escola Suicida” e trás como personagens apenas duas garotas.

- Eu não posso tomar suspensão! O que vou falar para os meus pais?
- Que não tomou suspensão!
- Com que cara?
- Com a mesma cara que ira dizer a eles que estava na aula hoje!
- Porque simplesmente não ficamos lá?
- Aquelas paredes, aquelas pessoas, aquela matéria estavam me sufocando.
- E tomar um ar no pátio não poderia te ajudar?
- Não posso fumar no pátio!
- Você não fuma!
- Isto não importa! O que importa que não poderia fumar lá se eu quisesse!
- Fumar seria destruir a sua saúde!
- Não fumar é destruir a minha liberdade... entendo que é horrível viver ao lado de um fumante ou sentir aquele maldito cheiro da fumaça. Mas não poder fumar sozinha no pátio é fascismo! Se fossem realmente preocupados com a saúde humana proibiram os automóveis de funcionar seus motores.
- Então estamos para ser pegas matando aula porque você não pode fumar um cigarro que não quer fumar?
- Não! Estamos para ser pegas porque não vejo motivos para me manterem confinada! Não fiz nada de errado!
- Aquelas pessoas querem te ensinar algo.
- Estão me ensinando, confinamento é solução para qualquer coisa! Cometeu um crime? Confina na cadeia! Quer ter educação formal? Confina na escola! Quer ter uma chance de crescer? Confina num trabalho! Quer se livrar dos velhos? Confinam eles num asilo!
- Não seja dramática! Você tem a liberdade de ir para onde você quiser!
- Errada. Eu tenho a liberdade para ir onde eu quiser desde que seja o lugar para onde me mandam! Saio daquela escola para ir para minha casa. Não posso ir numa escola diferente amanhã.
- Por que as suas coisas estão lá? Sua matrícula? Suas notas? É como você querer dormir na sua cama numa casa diferente da sua!
- Matrículas e notas são apenas números! Informações dentro de um computador! Toda a vida acadêmica de toda escola cabe no meu celular! Isso não pode ser desculpa!
- Viraria um caos!
- E qual o grande problema nisto? Quem ditou as regras? Quem disse que tudo que a escola ensina é aquilo que devemos realmente aprender? Quem disse que preciso de três anos para concluir o ensino médio? Porque não dois anos e sete meses ou cinco anos e três meses?
- Imaginou como ficaria as matriculas os diplomas? Seria horrível para controlar?
- Novamente, números, dados, burocracia! Educação deveria ser mais do que uma padronização! Deveria ser uma base para nos auxiliar a sermos tudo aquilo que podemos ser.
- E o que você quer ser?
- Não sei! Mas sei que não quero fazer do meu casamento o dia mais feliz da minha vida, ou melhor, não quero nem ao menos casar! Não quero que me imponha a felicidade! Quero ter o direito de encontrá-la! A felicidade é minha!
- E se você não conseguir encontrá-la!
- Quero ter o direito de parar de buscá-la definitivamente sem ser condenada por isto!
- Você é maluca! Sabia?
- Sim! E um dia você descobrirá que também é!
Maurício Pinheiro
é dramaturgo de segunda
e analista de informática