No filme “Pro dia nascer feliz”, direção de João Jardim, lançado no ano de 2007, podemos ver a relação entre os alunos e o ambiente escolar, assim como, algumas questões políticas e de caráter socioculturais que circundam este cenário.
O filme nos mostra o drama dos alunos em relação à educação em escolas de diversas regiões e diferentes classes sociais e nos permite fazer uma comparação com quatro causas que, segundo Comenius, educador tcheco (1592-1670) acredita serem os pilares da “desordem escolar” (CORTELLA, 1999).
A primeira das causas trata-se da ignorância, onde muitos acreditam que a escola tem um caráter profético cuja responsabilidade é moldar o aluno e encaminhá-lo ao “céu”, ou seja, conduzi-los num caminho onde o sucesso e a felicidade sejam garantidos. Ao passo que muitas outras pessoas veem a escola como um passatempo apenas, pois a prática fora da sala de aula é totalmente diferente. O aluno é e sempre será uma peça em meio a um jogo cujas regras são estabelecidas pela classe dominante.
Diante dessa visão pessimista, podemos ponderar que, muitas vezes há inveja por parte de pais e familiares que, quando mais novos não tiveram a mesma oportunidade de estudar e foram condicionados a outras atividades. Por essa razão, transferem o fardo para os filhos acreditando que é o melhor a se fazer. O importante é começar a trabalhar duro desde cedo para ser alguém na vida e fazer o que o senso comum chama de “pé-de-meia”.
Ainda no filme podemos observar a dificuldade que poucos alunos interessados em aprender alguma coisa têm para alcançarem as escolas. Muitas são longínquas demais, o transporte público nem sempre está em condições de ser utilizado e, quando muitas vezes essas questões são vencidas, o esforço do aluno não é reconhecido pelo corpo docente e nem pelos pais, gerando assim desamparo e, consequentemente, exaustão e desinteresse pela escola.
Além de todos esses fatores de caráter socioculturais, há as questões políticas e econômicas que, que oprimem e restringem o ensino a especificidades que estimulam o progresso da classe dominante (SAVIANI, 1989). Não podemos compreender atualmente a educação sem a influência política e vice-versa. Essa relação é facilmente entendida a partir do segundo grau, onde é notável uma preferência pelo ensino técnico e um desinteresse pelos valores éticos e morais dos indivíduos. A qualidade do ensino que há muito tempo atrás se caracterizava pela formação de valores e alunos capazes de pensarem e colaborarem para o desenvolvimento social ganhou um novo significado e, uma nova maneira de ser medida. Nos dias de hoje, a qualidade do ensino se caracteriza basicamente pelo retorno que isso dará ao indivíduo, sua utilidade, status, praticidade etc. (SILVA, 2009). É até difícil pensar de maneira diferente em se tratando do mundo globalizado em que vivemos onde o capitalismo é predatório e cada um é por si.
Do ponto de vista do corpo docente, é muito comum escutarmos reclamações sobre determinados alunos e desinteresse, pois muitos não consideram o ambiente do qual o aluno veio e qual sua bagagem anterior de vida, assim como, reclamam por não ter condições favoráveis de transmitir o pouco de conhecimento que têm.
Essa é uma situação histórica que não mudará facilmente em pouco tempo e com poucas pessoas, mas talvez com bastante tempo e um mínimo de esforço de muitas pessoas, a partir do momento em que a educação passar a atender tanto o interesse social quanto o interesse dos indivíduos (SANTOS, 2010).
Diante disto, o professor se vê na posição de um mediador, o qual deve ser capaz de auxiliar o aluno a mesclar conhecimento que trás de fora da escola com o conhecimento ganho em sala de aula. Do contrário, se a situação da educação continuar caminhando de forma subordinada às classes econômica e política, os interesses dos indivíduos consequentemente serão todos iguais (CORTELLA, 1999). A educação será absorvida totalmente pela política, ocasionando assim, a própria queda do estado e a preparação do terreno para cultivo da educação fundamentada na formação de valores éticos e morais.
Referência Bibliográfica
SANTOS, Milton. Os deficientes cívicos. Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/fol/brasil500/dc_3_9.htm> Acessado em: 23/10/2011
CORTELLA, M. S. Conhecimento Escolar: Epistemologia e Política. In: A escola e o conhecimento: fundamentos epistemológicos e políticos. São Paulo: Cortez, Instituto Paulo Freire, 1999. p. 129-159.
SAVIANI, D. Onze teses sobre Educação e Política. In: Escola e Democracia. São Paulo: Cortez, 1989.
SILVA, M. A. Qualidade social da educação pública: algumas aproximações. Caderno CEDES, Campinas, v. 29, n. 78. maio/ago. 2009. Disponível em: www.scielo.br/pdf/ccedes/v29n78/v29n78a05.pdf. Acessado em: 23/10/2011
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