Olá, queridos!
Para concluir mais um semestre de estudos, compartilho com vocês um resumo sobre o pensamento epicurista em Roma, introduzido por Lucrécio. Esse trabalho foi feito em parceria com meu grande amigo filósofo e teólogo William Rodrigues da Silva, a quem tenho muita consideração.
O resumo também servirá de complemento ao trabalho "Escolas filosóficas do período helenístico: o Epicurismo", publicado no dia 19 de Junho de 2011.
Para acessar o trabalho "Escolas filosóficas do período helenístico: o Epicurismo", clique no link abaixo:
http://notasdohenry.blogspot.com.br/2011/06/escolas-filosoficas-do-periodo.html
O Epicurismo de Lucrécio em Roma
Introdução
As primeiras tentativas de introduzir a
filosofia epicurista em Roma não foram bem sucedidas. Uma série de fatores
contribuiu para que as investidas fossem em vão, como por exemplo, o idioma e,
talvez mais importante, a abordagem dos representantes. O objetivo deste
trabalho é descrever de maneira breve como a filosofia epicurista foi, por meio
de Lucrécio, introduzida em Roma e, também, as características nela
acrescentadas.
Primeiras tentativas e o círculo de
Filodemo
Alceu
e Filisco eram dois seguidores do Jardim, no entanto, ficaram conhecidos
somente após tentarem introduzir o Epicurismo em Roma pela primeira vez e serem
imediatamente expulsos.
Por
volta de 156/155 estiveram em Roma três filósofos gregos muito famosos:
Carnéades, Critolau e Diógenes, representando respectivamente a Academia, o
Perípato e o Pórtico. Mas estes tentaram fazer propagandas das suas doutrinas
em público e, por isso, foram expulsos de lá.
Para
alguns, devido ao dirigente do Jardim não ter sido convidado com os outros
escolarcas, os dois epicuristas resolveram tentar introduzir sua doutrina por
conta própria. Ao passo que, para outros era improvável que alguém ousasse uma
nova tentativa após a expulsão dos escolarcas.
Alceu e Filisco foram expulsos de Roma por uma
razão de caráter religioso e moral, pois os costumes que pregavam exortavam os
jovens ao prazer.
A tentativa de Amafínio
Gaio Amafínio obteve mais sucesso em sua
tentativa de introduzir o epicurismo em Roma, pois escreveu um tratado
filosófico em Latim sustentando as ideias epicuristas de forma simples com bom
gosto e elegância. Seu tratado cativou a Cícero e possuía um caráter
fundamentalmente divulgativo.
O círculo de Filodemo
Filodemo
era discípulo de Zenão de Sídon, porém, após a morte de seu mestre, veio de
Atenas para Roma onde contraiu amizade com Calpúrnio Pisão.
Calpúrnio
Pisão era sogro de César, muito conhecido e influente na política que, após se
converter às ideias de Filodemo, cedeu-lhe uma vila em Herculano que se tornou
uma sede epicurista bem frequentada pela alta sociedade.
O trabalho de Filodemo, em parte, dava
continuidade às teorias de seu mestre Zenão sobre o aprofundamento das
operações lógicas que constituem o raciocínio humano e, em particular, no
procedimento indutivo fundado na analogia. Além disto, Filodemo também indagou
sobre o problema dos deuses, da religião e da morte; ocupou-se com arte,
retórica e economia. Entretanto, ao contrário de Amafínio, seu trabalho
permaneceu no idioma grego e, por isso, afrontou diversos problemas técnicos em
alto nível.
Lucrécio e a sua poesia epicurista
Lucrécio
nasceu no início do século 1 a.C. e morreu por volta da metade do mesmo século.
Muito pouco se conhece sobre sua vida, mas sabemos por meio de S. Jerônimo que
Lucrécio enlouqueceu e compôs seu poema nos intervalos que a loucura lhe
concedia.
Também
aprendemos que Lucrécio se suicidou aos 44 anos e que, Cícero escrevera uma
carta elogiando o poema de Lucrécio.
Devido a uma incompreensão de Epicuro, muitas
opiniões se formaram a respeito de Lucrécio. A mais relevante, talvez, seja a
de que havia um “antilucrécio” dentro do próprio Lucrécio. Em outras palavras,
seu poema continha muita tristeza e melancolia, considerados sentimentos
antiepicuristas e, portanto, contrários às intenções epicuristas de Lucrécio.
Características do poema Lucreciano e a vitória da razão
Mesmo
que eu ignorasse quais são os elementos das coisas, ousaria, no entanto, e só
pelo estudo das leis celestes, afirmar e mostrar, até por outras coisas ainda,
que de nenhum modo a natureza foi preparada para nós por vontade dos deuses:
tão grandes são os seus defeitos!
Primeiro,
de toda a terra coberta pelo imenso ímpeto do céu possuem os montes e os
bosques da terra uma ávida parte; ocupam outra as rochas e os brejos desertos e
outra ainda o mar que largamente separa os litorais, e as terras. Depois, perto
de duas partes, roubam-nas aos mortais o fervente ardor e a incessante queda da
neve.
Quanto
ao que sobra de terra cultivada, a natureza por sua própria força a esconderia
sob as silvas, se a energia humana não resistisse e se por causa da vida a não
tivesse habituado a gemer sob o forte enxadão e não tivesse rasgado a terra
pesando sobre o arado. Se nós não revolvêssemos com a relha as fecundas glebas,
se não preparássemos o solo para o que tem de nascer, nada poderia por si mesmo
subir no límpido ar; e todavia muitas vezes o que foi obtido com grande
trabalho, quando já tudo se cobre de folhas e floresce pela terra, ou o abrasa
o sol etéreo com o calor demasiado ou o destroem as súbitas chuvas e a fria
geada, e o arrebatam os flagelos do vento em violento turbilhão.
Por que razão, além disso, alimenta e multiplica a natureza, em mar e terra, a raça terrível das feras inimigas do gênero humano? Por que razão trazem doenças as estações do ano? Por que razão vagueia a morte prematura?
Por que razão, além disso, alimenta e multiplica a natureza, em mar e terra, a raça terrível das feras inimigas do gênero humano? Por que razão trazem doenças as estações do ano? Por que razão vagueia a morte prematura?
Depois,
a criança, que, tal o marinheiro arremessado pelas ondas terríveis, jaz nu
sobre o solo, sem falar, sem nenhum auxílio para a vida, logo que a natureza a
lança num esforço, do ventre da mãe às praias da luz, enche o lugar de
queixosos vagidos, como é natural para quem tem ainda de passar tantos males
durante a vida.
Mas
crescem os variados animais, os de rebanho e as feras, sem que sejam
necessários guizos nem as palavras balbuciadas e suaves da ama criadora; não
têm de procurar vestuários diferentes segundo a época do céu, nem necessidade
de armas e de altas muralhas para proteger as suas coisas: a terra e a natureza
criadora a todos dão de tudo, e largamente[1].
[1] . De rerum natura, V, 195-234.
Tradução: Agostinho da Silva (Coleção Os Pensadores, vol, V, São Paulo, Editora
Abril, 1973) [N.d.T].
Nos
versos acima, encontra-se a antítese mais notável e, repetidamente apresentada
pela crítica entre Lucrécio e Epicuro. Os versos contém profundo pessimismo e
ilustram o mal e a dor que assola o mundo. Ora, a filosofia epicurista tinha
como principal objetivo a felicidades.
Mas
Lucrécio repete em seus versos conceitos que eram sustentados por Epicuro.
Ambos não negavam os males do mundo, pelo contrário, reconhecia-os e queriam
curá-los por meio de sua filosofia.
Epicuro,
assim como Lucrécio, considerava o homem como sendo a obra-prima do mundo, pois
podiam e deviam triunfar sobre os males do espírito e viver como os deuses por
meio da sabedoria.
Lucrécio e Epicuro combatiam com sua filosofia,
os males da alma, principalmente o temor dos deuses, o medo dos males físicos e
espirituais e, o pior de todos, o medo da morte.
A originalidade da obra de Lucrécio
Em sua obra, Lucrécio aderiu a uma concepção
antiteológica do universo, evolucionista e antiteleológica e propôs uma teoria
de evolução biológica e social que, superava qualquer outra teoria proposta na
época.
A
“ciência” de Lucrécio não possui o sentido moderno do termo, mas trata-se de um
estudo metafísico sobre a totalidade, causas supremas de toda a realidade e os
fundamentos últimos do ser.
O
evolucionismo da obra de Lucrécio também se difere do evolucionismo darwiniano.
O atomismo trata-se de uma ontologia nascida para superar os eleatas, mas
fundada sobre categorias eleáticas, particularmente, melissianas.
No poema lucreciano, o poeta romano trata mais
de física do que de ética, no entanto, a física de Lucrécio não possui o mesmo
propósito que a física de todas as demais escolas helenísticas, mas de
representar a verdade que espanta os horrores e angústias humanas e demonstrar
que há dimensões ontológicas, nas quais se é possível ter uma vida feliz.
A compaixão pela dor
Por esta razão, o poema de Lucrécio comporta um
enorme sentimento de compaixão cósmica, sobretudo, pelo homem privado da
verdade revelada por Epicuro.
Sentido da vida e da morte
A diferença é que, a negação de que a morte não
seja um mal em Epicuro, era um grande desafio ao destino e uma heroica mentira.
Ao passo que, no poema de Lucrécio, fica evidente o desejo que o homem tem do
eterno. O canto de Lucrécio não tai Epicuro, torna a filosofia epicurista mais
tocante e mais verdadeira.
Conclusão
A novidade da obra de Lucrécio, portanto, se
encontra em forma de poesia, acrescentando à linguagem do logos de Epicuro os
tons persuasivos dos sentimentos, transformando e fazendo com que a filosofia
epicurista se torne mais verdadeira e penetre os corações com mais facilidade.
Bibliografia
REALE, Giovanni –
História da Filosofia Antiga. São Paulo : Loyola, 1994. – Série História da
Filosofia.
Fonte da imagem: http://www.percepolegatto.com.br/wp-content/uploads/2012/11/Lucr%C3%A9cio-2-300x300.jpg, acessado em: 27/06/2013
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