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Muito antes de aprender a falar, a criança já descobriu outros meios mais simples
de se comunicar com as pessoas. Os gritos de desconforto, dor e fome, medo e
susto que encontramos em todo o mundo orgânico começam a assumir uma nova
forma. Deixam de ser reações instintivas simples, pois são empregados de
maneira mais consciente e deliberada. Quando é deixada sozinha, a criança exige
por sons mais ou menos articulados a presença da babá ou da mãe, e percebe que
essas exigências surtem o efeito desejado. O homem primitivo transfere essa
primeira experiência social elementar para a totalidade da natureza. Para ele,
natureza e sociedade não estão apenas interligadas pelos mais fortes vínculos;
formam um todo coerente e uma grande sociedade – a sociedade da vida. A partir
desse ponto de vista, podemos entender facilmente o uso e a função específica
da palavra mágica. A crença na magia está baseada em uma profunda convicção da
solidariedade da vida. Para a mente primitiva o poder social da palavra,
experimentado em inúmeras ocasiões, torna-se uma força natural, e até
sobrenatural. O homem primitivo sente-se rodeado por todo tipo de perigos
visíveis e invisíveis. Não pode ter esperanças de superar esses perigos por
meios meramente físicos. Para ele, o mundo não é uma coisa morta ou muda; ele
pode ouvir e entender. Logo, se os poderes da natureza forem convocados da
maneira correta, não poderão negar-se a ajudar.
Li
o texto “A Linguagem” do Cassirer inteiro por pelo menos umas três vezes e conclui
que, todos os trechos descritos permitem uma reflexão profunda. Por esta razão,
escolhi o trecho acima que é o primeiro dos trechos e que nos permite refletir
sobre a origem da linguagem e o seu impacto no mundo e nos seres vivos.
De
acordo com Cassirer, uma criança antes de aprender a falar já descobriu outras
maneiras conscientes de se comunicar com o mundo. A criança emite sons
articulados e determinados objetos e pessoas e, já é o suficiente para
conseguir o que deseja. Isto me faz pensar que a linguagem por si só não é uma
criação humana, mas uma característica do próprio ser humano, uma condição
necessária para que a espécie entre em harmonia com a natureza e interaja com
outros seres vivos.
Com
base nessa afirmação, fiz uma analogia entre a linguagem humana com a linguagem
musical, uma vez que a música é tão antiga que ninguém ao certo sabe sua
origem, mas que provavelmente existe desde a origem do mundo. Fiz também uma
analogia entre o poder da linguagem e a fé de que Jesus dispunha e falava.
Até
então, a mistura de sons, silêncio e gestos, como um maestro regendo uma grande
sinfonia, era o suficiente para fazer as coisas acontecerem. Neste contexto,
essa grande sinfonia operava milagres, era a própria voz de Deus. Porém, num
determinado momento, o ritmo dessa sinfonia vibrou de tal maneira que causou
uma reação num indivíduo qualquer e este decidiu por tentar colocar esse ritmo
no papel.
Quando
essa sinfonia foi escrita, o seu ritmo foi classificado de uma maneira não
muito efetiva, ou seja, incapaz de representar as propriedades do som.
Consequentemente, as vibrações foram deixadas de lado e os milagres foram
deixando de acontecer, ao passo que, a insatisfação do homem e angústia ia
aumentando e gerando novos estilos musicais.
Essa
variedade de estilos musicais dividiu os seres humanos, que passaram a tocar
seus ritmos simultaneamente a fim de demonstrar qual era o mais intenso e que
predominaria sobre os demais ritmos. Neste exato momento houve uma divisão
entre o ritmo bom e o ritmo ruim, vibrações que geravam o bem e vibrações que
geravam o mal. Acabou-se o milagre da música e também a fé que as pessoas
inconscientemente depositavam nela.
Os
maestros que regiam essa variedade de músicas dos mais diversos estilos
romperam sua ligação com a natureza que, em determinado momento, clamou por
salvação. Então, o verbo se fez carne (João 1:14), - a 9ª sinfonia de Beethoven
- que ao ser reproduzido curava e trazia de volta a vida.
Jesus
veio como o novo maestro capaz de restabelecer a ligação dos demais com o mundo
a fim de que todos voltassem a fazer parte da mesma orquestra. A música que
Jesus produzia era muito poderosa e a convicção e ele tinha nela era maior do
que qualquer coisa. As vibrações de sua música eram a fonte de toda a vida,
pois estava em harmonia com o mundo. Porém, como as pessoas já haviam se
corrompido e optado por estilos musicais contrários ao estilo original, o
negaram. Percebemos hoje a quantidade de pessoas que dizem não gostar de música
clássica ou que gostam, mas não estudam ou praticam.
No
princípio tudo era música, porém, desde que foi estabelecida uma escrita, a
essência se perdeu e palavra nenhuma foi capaz de resgatar o seu real
significado. Os sons que não se enquadram nas sete notas da escala musical, são
menosprezados como se a música não precisasse mais deles.
Desaprendemos
como ouvir e somente quando resgatarmos essa habilidade, nossa alma será capaz
de cantar livremente e então estaremos à imagem e semelhança de Deus.
Fonte da imagem: http://baladementacomchocolate.zip.net/images/cadeira.jpg - Acesso em: 06/07/2012
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