domingo, 27 de novembro de 2011

Artigo sobre política, educação e docência: o destino da educação



Entre 1960 e duas décadas seguintes, o sistema de educação girava em torno da política desenvolvimentista, pois se acreditava que por meio da educação, o índice de pobreza poderia ser reduzido. A educação no Brasil passava por um período de adequação à cultura Fordista e o Banco Mundial - órgão que financia projetos de desenvolvimento educacional, saúde e tecnologia em governos de países em desenvolvimento - implantou uma série de processos que impactaram diretamente na redução da pobreza, principalmente por meio do ensino fundamental (SOUZA, 1999; OLIVEIRA, 2004).

Já no início de 1990, a globalização ganha força e surge uma grande revolução no que se refere à gestão do sistema de educação escolar e docência. A partir deste ano, inicia-se no Brasil. Um processo de universalização da educação. A escola passou a ser responsável em promover o aprendizado de todos os alunos e as famílias passaram a ter mais participação nos processos da gestão escolar além de serem obrigadas a matricular os filhos na escola.

Esse processo de universalização exigiu que algumas medidas fossem tomadas; os professores passaram por uma readaptação no processo de docência, o acesso dos alunos aos livros didáticos foi facilitado e ciclos de progressão continuada foram implantados, assim como, avaliações externas a fim de avaliar o sistema de educação como um todo e um serviço prestado. O que antes visava reduzir índice de pobreza na sociedade passou a ser uma medida de equidade social. (MARCHELLI, 2010).

Para que todas essas mudanças fossem possíveis, alguns processos de direção no sistema escolar precisaram ser modificados e isso impactou diretamente o corpo docente, pois os profissionais da educação passaram a ser de certa forma, responsáveis pelos resultados da escola perante a sociedade. Surge com isso, uma precarização do serviço destes profissionais que precisam, além de dominar a matéria ensinada, muitas vezes atuar como professores de outras disciplinas, assistente social, psicólogo etc. (OLIVEIRA. 2004). Esse esforço excessivo gera uma sensação de desprofissionalização do corpo docente, como se o ensino não fosse o principal, mas sim a maneira como o mesmo é fornecido. Além disso, há uma precarização do ponto de vista material, onde os professores não têm condições favoráveis para exercer sua profissão, com falta de materiais ou materiais de baixa qualidade e salas de aula excessivamente cheias.

Hoje podemos sentir na pele ou através de nossos filhos a situação a educação no Brasil. Professores especialistas em determinada disciplina dando aulas em outras disciplinas das quais não têm domínio algum, bastando apenas a seguir com o conteúdo da apostila fornecida pela escola. A especialidade já não é mais o essencial e sim o instrumental, ou seja, a capacidade de adequação do professor ao sistema e sua flexibilidade, pois manter um professor altamente qualificado numa disciplina específica é caro e esse investimento pode ser utilizado para promover a educação de outras maneiras consideradas de maior importância. Ganhamos no ponto de vista social no que se refere à educação ao alcance de todos, porém, surge a seguinte questão para reflexão: “onde iremos parar indo para escola por obrigação sem qualquer interesse ou visão política, sendo meros repetidores de informações?”.

Referências Bibliográficas:

SOUZA, A. N. A política educacional do Banco Mundial. In: BITTENCOURT, A. B.; OLIVEIRA JR, W. M. Estudo, pensamento e criação. Campinas, SP: Graf. FE/UNICAMP, 2005. v.3. p.99-117.

MARCHELLI, P. S. Expansão e qualidade da educação básica no Brasil. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v.40, n.140, p. 561-585, maio/ago. 2010. Disponível em: www.scielo.br/pdf/cp/v40n140/a1340140.pdf

OLIVEIRA, Dalila Andrade. A reestruturação do trabalho docente: precarização e flexibilização. Educação e Sociedade, Campinas, vol. 25, n. 89, p. 1127-1144, Set./Dez. 2004 Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/es/v25n89/22614.pdf

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