quinta-feira, 21 de julho de 2011

O Passeio

Olá pessoal,

Está ficando cada vez mais difícil de escrever por conta da correria do dia-a-dia, mas hoje trago algo novo de minha própria autoria.

O texto a seguir é uma anotação de um sonho que tive, eu apenas consolidei as idéias e as coloquei numa ordem que faça sentido. Futuramente pretendo trabalhar melhor esse texto e extendê-lo com maiores detalhes.

Nesse texto escrevi sobre um mundo assolado pelos cavaleiros do apocalipse: Conquista, Guerra, Fome e Morte, mas que ainda assim, cheio de esperança e escolhas.

Espero que gostem.


O Passeio

Montagem feita por Rodolpho Máximo Fernandes


O sol brilhava forte no alto, Miguel pôde observá-lo da janela de seu quarto ao despertar. Sentiu um pequeno incômodo no estômago, lembrou-se que não havia jantado na noite anterior e que não tinha nada para o café da manhã. 

Decidiu então, levantar e sair de carro pela cidade a fim de comprar mantimentos e também para se divertir, afinal, estava de férias do trabalho e, portanto, deveria investir o tempo livre nas coisas que gostava de fazer. Dirigir era uma delas. 

O barulho do motor do Ford Maverick de 8 cilindros soava como música para os ouvidos de Miguel. Herdou o carro de seu pai, que havia se preocupado em deixá-lo em perfeitas condições.

O único empório que ainda estava ativo, ficava a 66,9 KM da cidade de Nascimento e havia um só trajeto a ser feito, uma vez que muitas ruas haviam sido severamente castigadas pelas chuvas fortes e frequentes.

Miguel iniciou seu percurso pela Rua Pirgoto e ligou o toca fitas para ouvir sua banda favorita, AC/DC. A música que estava tocando era Highway to Hell e estava quase na metade quando parou no primeiro semáforo. Tinha então três opções, esperar o sinal verde e seguir, virar para a direita ou virar para esquerda.

Quando Miguel olhou pela janela direita, viu um rapaz ceder o taxi que havia chamado à um casal de idosos. Também viu duas crianças rodando peões na calçada e sorrindo, e viu também uma moça que havia interrompido sua corrida para afagar um pequeno cachorro de rua.

Ao olhar pela janela esquerda, Miguel viu um homem aparentemente bem sucedido - que havia conquistado status social - desprezar um mendigo que, com lágrimas nos olhos, suplicava por uma moeda.
Viu também uma família que foi obrigada a se levantar da mesa de um restaurante para ceder lugar a um grupo de pessoas engravatadas. Não havia espaço para os mais humildes e generosos.

O sinal ficou verde e Miguel seguiu adiante refletindo sobre o que tinha acabado de ver. Mas alguns quilômetros adiante se deparou com outro sinal vermelho. Quando olhou pela janela direita, viu um casal de namorados se abraçando, um menino ajudando uma idosa a atravessar a rua, e pessoas de várias raças, cores e crenças juntas jogando bola. Mas quando olhou pela janela esquerda, viu essas mesmas pessoas separadas em grupos ofendendo umas as outras, um ônibus sendo depredado e pessoas pensando apenas em si mesmas.

Assim que o sinal abriu, Miguel seguiu em frente e rodou por mais alguns quilômetros pensando sobre o que havia presenciado. Parou então no terceiro sinal. Do lado direito havia frutas de todos os tipos, uma família fazendo piquenique, e um menininho repartindo o último pedaço de bolo com o irmão. Ao passo que, do lado esquerdo, as plantas estavam mortas e a fome assolava as pessoas. Os supermercados estavam com preços exorbitantes e ninguém tinha condições de se alimentar devidamente.

Quando o sinal abriu, Miguel saiu cantando pneus, pois o que tinha visto era muito forte. Desejou que seu Maverick não tivesse janela esquerda.

Por fim deparou-se com o quarto e último sinal fechado. Ao olhar pela janela direita, viu botões florescendo, um filhote de passarinho em seu primeiro vôo, e uma família comemorando após ter recebido a notícia de que um novo membro havia acabado de nascer. Não resistindo, olhou pela janela esquerda e viu pessoas morrendo por doenças, espancamentos, acidentes, causas naturais. Viu a morte em suas diversas faces.

Desesperado, acelerou forte e seguiu adiante.

Ao chegar ao pequeno empório onde sanaria sua fome, compraria medicamentos e itens para sua própria segurança, percebeu que havia esquecido sua carteira em casa e precisou voltar para pegá-la. Sendo assim, seria obrigado a percorrer o mesmo trajeto novamente.

Quando por fim, Miguel conseguiu chegar até o empório, concluiu sua tarefa e percebeu que todo o percurso e tudo aquilo que havia presenciado fazia parte de um processo de aprendizagem que o tornava cada vez mais consciente de suas atitudes, escolhas e dos resultados. O seu trajeto percorrido era o seu purgatório onde permaneceria até que suas tarefas fossem terminadas e suas ações culminassem em resultados.

Ele escolheu virar para a direita...


Fonte da imagem: http://rodolphomaximo.wordpress.com/
Acesso em: 21/07/2011 01:56

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